Por que não se usa barcos no dia-a-dia fora da Amazônia?
Moro no Estado do Rio e, diariamente, me vejo obrigado a enfrentar uma maratona de 35km até o centro da Capital. Em termos atuais, a distância é relativamente curta e seria vencida com facilidade, se todo o percurso não fosse pontilhado por engarramentos com as mais diversas origens: estreitamentos de faixa, obras, acidentes, cruzamentos, alagamentos, sinais, afunilamentos, e mais uma infinidade de obstáculos que, somados, fazem com que a viagem dure em média 2,5 horas.
Pergunto: com tanta água, porque não se utilizam outras alternativas de transporte através da baia de Guanabara? Comparativamente, as distâncias são menores, mas o grande diferencial está na ausência dos obstáculos normalmente encontrados no caótico trânsito urbano.
Aqui em Niterói (RJ), há transportes de massa que utilizam o meio aquaviário, mas são insuficientes e estão concentrados nas mãos de um único consórcio. A falta de concorrência resulta em descaso e em preços abusivos: para se atravessar de Charitas até a Estação da Praça XV, cerca de 20 km, se paga R$13,00. É um negócio extremamente elitizado no preço, mas precário no serviço. Não são raras as vezes que os passageiros se revoltam contra a morosidade das embarcações e promovem até quebra-quebra na estação.
Mas, porque é tão caro andar de barco fora da Amazônia? Possivelmente, as respostas são:
a) O desconhecimento e desinteresse por esse tipo de transporte para fins de locomoção cotidiana. É difícil encontrar alguém que saiba o nome de pelo menos um fabricante de barcos. Quando se fala nos termos náuticos empregados nas designações do barco, então, é linguagem de outro mundo: pés, bombordo, calado, espia, bico de proa… o que é isso? Todo mundo só entende uma linguagem: freio, embreagem, pára-choque, volante, roda de liga leve… Quando se pensa em barco fora da Amazônia, a primeira imagem que nos vem à cabeça é a de um super iate com uma super loira na proa, em trajes mínimos, segurando uma taça de champanhe; ou em um playboy montado num jet-ski barbarizando no meio dos banhistas.
b) Os custos, tanto para aquisição como para manutenção. Reportagem da revista “Exame”, de janeiro/2013, traz alguns valores aproximados desses custos. Interessante é que alguns barcos novos e pequenos não saem tão caro e chegam a custar menos que um carro popular. O que pesa são os custos de manutenção, que chegam a 15% do valor do bem, anualmente. Para um barco de R$40.000,00, por exemplo, isso equivale a R$6.000,00.
Ainda há muitos pontos a serem considerados. O nosso principal objetivo é despertar um debate a respeito da massificação dos barcos e sua utilização no cotidiano do brasileiro. Como disse Amyr Klink, “O Brasil tem muito mar, mas não gosta tanto do mar e não lhe dá muito valor”. Até breve.
Reginaldo Mauro Neves é fundador e administrador do Clube do Arrais. Mestre-Amador, Veterano da Marinha do Brasil | Ex-tripulante da Fragata "Liberal" (1991-1993) | Operador de Radar na Fragata "Independência" (1995-1997) | Controlador Aéreo Tático Classe "Alfa" na Fragata "Dodsworth" (2000 - 2003) | Controlador Aéreo Tático Classe "Alfa" na Fragata "Greenhalgh" (2003 - 2005) | Encarregado da Seção de Segurança do Tráfego Aquaviário na Agência Fluvial de Imperatriz-MA (2008 - 2011)