Base brasileira na Antártica será reinaugurada dia 14
A Marinha do Brasil (MB) divulgou nota informando que a Base brasileira na Antártica será reinaugurada dia 14 de janeiro, às 17h. A cerimônia será transmitida em tempo real pela Página Oficial da Marinha do Brasil no Facebook e pela TV Brasil.
Leia abaixo a íntegra da nota da Marinha sobre a reinauguração da Base brasileira na Antártica:
“A Marinha do Brasil (MB) reinaugura, no dia 14 de janeiro, a Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF). As novas edificações configuram uma área de aproximadamente 4.500m2. Destaca-se no projeto arquitetônico a substancial ampliação da capacidade de pesquisa da nova estação em comparação à antiga, saindo de quatro para dezessete laboratórios no total, projetados e equipados para atender a uma multiplicidade de necessidades da comunidade científica brasileira, dentre os quais destaca-se: meteorologia, biociências, química, microbiologia, biologia molecular, bioensaios e de múltiplo uso.
O prédio principal da EACF está dividido em três grandes blocos, distribuídos da seguinte forma:
• Bloco Leste: destinado às pesquisas, convívio e serviços da EACF. Nele, estarão 14 laboratórios, refeitórios, cozinha, setor de saúde, sala de secagem e oficinas;
• Bloco Oeste: setor privativo e de convívio dos hóspedes da estação, onde estão instalados os 32 camarotes, uma biblioteca, uma academia e sala de vídeo/auditório. Em seus níveis inferiores, encontram-se os paióis de mantimentos e os tanques de água potável e para combate a incêndio; e
• Bloco Técnico: responsável por todo o controle e demanda da rede elétrica, sanitária e automação da estação, além de possuir espaço destinado à garagem de viaturas. É composto, dentre outros, por estação de tratamento de água e esgoto, praça de máquinas, geradores, sistema de aquecimento de água, setor de tratamento e incinerador de lixo e paióis diversos.
A execução de obras no continente antártico é uma atividade complexa, que envolve uma grande quantidade de variáveis, levadas em consideração para que a construção do empreendimento pudesse transcorrer com o menor número de imprevistos. Em razão das condições severas do clima da região, as obras foram planejadas para ocorrer somente no período do verão antártico, situado entre os meses de outubro e abril. Dessa forma, foram necessários três anos para que as instalações da EACF atingissem o ponto que permitiu sua operação com segurança, o que ocorreu em março de 2019. No entanto, em função da necessidade do comissionamento e teste dos novos sistemas, além do adequado treinamento do Grupo-Base, optou-se pela inauguração no início de 2020.
Nesse período da construção, estiveram envolvidos, direta e indiretamente, diversos colaboradores, dentre os quais destacam-se os engenheiros e operários da empresa China National Electronic Imports and Exports Corporation (CEIEC), chegando a somar 263 na área da estação no verão de 2018/2019; fiscais do MMA/IBAMA responsáveis por fiscalizar e mitigar possíveis impactos ambientais da obra no sensível ecossistema antártico; Engenheiros Navais da Marinha que acompanharam todas as etapas da empreitada, desde a elaboração do projeto técnico, pré-montagem dos módulos na China e sua efetiva construção na Antártica; militares dos Grupos-Base da EACF auxiliando na fiscalização e provendo os meios necessários para a permanência do pessoal na região com segurança e conforto; as tripulações dos Navios Polar “Almirante Maximiano” e de Apoio Oceanográfico “Ary Rongel”, auxiliando no transporte de pessoal e material; e os militares do PROANTAR, no planejamento e condução das Operações e coordenação do apoio logístico necessário.
Desde a decisão pela reconstrução da EACF, tomada logo após o incêndio da antiga estação, decorreram várias fases até que tudo estivesse pronto para a inauguração. Dentre essas fases destacam-se:
– Em agosto de 2015 – Assinatura do contrato de construção em agosto de 2015 com a empresa CEIEC;
– De janeiro a fevereiro de 2016 – Execução de serviços geológico-geotécnicos complementares na área da construção na Antártica, a fim de adequar o projeto às características geológicas da região;
– De março a novembro de 2016 – Fabricação, na China, das fundações e estruturas. Nesse período foi feita a montagem em Xangai de um modelo em escala natural das instalações (MOCKUP), de forma a verificar e solucionar possíveis problemas de projeto e construção;
– De dezembro de 2016 a março de 2017 – Execução das obras de fundação na Antártica. As edificações utilizam fundações em blocos de concreto que, devido às dimensões e peso final, foram fabricados em peças prismáticas menores, as quais foram montadas diretamente nas cavas, cujas profundidades variam em torno de 2,0 metros;
– De abril a outubro de 2017 – Fabricação e pré-montagem da estação ainda na China. Nesta fase, toda a estrutura e todos os módulos foram fabricados e pré-montados. Em seguida, foram desmontados e preparados para transporte ao continente antártico. A pré-montagem foi utilizada para minimizar os riscos de falta de material e para reduzir a possibilidade de problemas durante a montagem;
– De dezembro de 2017 a março de 2018 – Fase 1 de montagem da EACF na Antártica. Os trabalhos foram iniciados pelo Bloco Oeste da estação. Ao final do verão, este bloco foi parcialmente concluído. Além disso, o Bloco Leste teve sua estrutura inferior montada e os Módulos Isolados de Comunicações, Meteorologia e Ozônio e de Very Low Frequency (VLF) foram instalados;
– De setembro a outubro de 2018 – Pré-montagem de equipamentos e conclusão de serviços internos nos módulos da estação;
– De novembro de 2018 a abril de 2019 – Fase 2 de montagem da EACF na Antártica. Foram instalados os blocos leste e técnico e finalizadas as redes e infraestrutura externa, a instalação dos aerogeradores e a construção da Área de Pouso Administrativo; e
– De abril de 2019 a março de 2020 – Realização dos testes de aceitação, comissionamento dos sistemas e equipamentos e o treinamento do Grupo-Base “FERRAZ” para a operação e manutenção da EACF durante o inverno de 2020.”
Fonte: Marinha do Brasil / Centro de Comunicação Social da Marinha – Departamento de Imprensa.
Base brasileira na Antártica será reinaugurada dia 14
Vídeo: Tour virtual pela EACF
Meios de apoio à Base brasileira na Antártica
Atualmente a EACF é apoiada por meios da Marinha do Brasil e da Força Aérea.
Navio de Apoio Oceanográfico “Ary Rongel” (H44)
O Navio de Apoio Oceanográfico “Ary Rongel” foi incorporado à Marinha do Brasil em 25 de abril de 1994. Construído em 1981 na Noruega pela empresa Rieber Shipping, o MV Polar Queen era utilizado em expedições aos mares gelados do Ártico e da Antártica. Foi projetado para a operação em regiões polares e possui a capacidade de navegar campos de gelo fragmentado, sendo catalogado como “Ice Class 1A1” pela Sociedade Classificadora Det Norske Veritas.
O “Ary Rongel” tem como missão básica “apoiar os subprogramas de Ciências da Atmosfera, Ciências da Terra, Ciências de Vida e de Logística, a fim de contribuir para a consecução do Programa Antártico Brasileiro”. Em caso de conflito, ou seja, em situações de crise Político Estratégicas ou de Guerra, o H44 terá como missão “executar as tarefas de operações de apoio logísticomóvel, a fim de contribuir para o apoio das Operações Navais”.
Navio Polar “Almirante Maximiano” (H41)
O Navio Polar “Almirante Maximiano” foi incorporado à Marinha do Brasil em 2009. Construído originalmente em 1974, nos EUA, passou por grandes reformas estruturais que preservaram apenas a quilha como parte original da embarcação. Devido a este fato o ano de 1988 é considerado, na prática, o seu novo ano de construção.
O “Almirante Maximiano” é empregado prioritariamente em coletas de dados oceanográficos na Região Antártica, em apoio aos projetos científicos do Programa Antártico (PROANTAR), podendo ser utilizado tanto em Águas Jurisdicionais Brasileiras como em outras regiões da “Área”, com a finalidade de realizar levantamentos hidroceanográficos para a atualização de cartas e publicações náuticas.
Aeronave C-130 “Hércules”
A Força Aérea Brasileira (FAB) apoia o Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR) desde 1983. A primeira aeronave da força a pousar no continente gelado foi o FAB 2463. Desde então, as missões de apoio ao PROANTAR tem sido realizadas a bordo do C-130 Hércules, do Esquadrão Gordo (1°/1° GT).
O C-130 Hércules contribui para viabilizar a presença do Brasil na Antártica, uma vez que as características geográficas e o clima extremo dificultam o acesso ao continente. No inverno, período em que o mar está congelado, o acesso torna-se ainda mais difícil, sendo necessário realizar lançamento aéreo de cargas para possibilitar o abastecimento de medicamentos, equipamentos e mantimentos que suprem a Estação Antártica Comandante Ferraz. Essa atividade exige treinamento e perícia dos tripulantes, pois pequenos erros podem gerar a perda da carga.
Vídeo: C-130 Hércules em operação na Antártica
O que é o Tratado da Antártica?
Assinado originalmente por 12 países – África do Sul, Argentina, Austrália, Bélgica, Chile, Estados Unidos, Japão, Noruega, Nova Zelândia, Reino Unido e União Soviética (e depois pela Rússia) -, o Tratado da Antártica entrou em vigor em 23 de junho de 1961. Atualmente, tem 50 Estados-membros. O governo americano é o depositário do Tratado.
O Tratado proíbe qualquer militarização do continente, reservando-o “exclusivamente a atividades pacíficas”. Sem equivalentes nas relações internacionais, o Tratado Antártico se baseia em grandes princípios: a não militarização e a não nuclearização do continente, liberdade de pesquisa científica, proteção do meio ambiente e congelamento de qualquer reivindicação territorial.
O documento proíbe, especialmente, a mobilização e os testes com armas de todo tipo, inclusive as nucleares, bem como quaisquer medidas de caráter militar. Além disso, congela qualquer reivindicação territorial no continente branco.
Os países-membros celebram reuniões consultivas anuais sobre o documento, as ATCMs, nas quais se discutem as diretrizes dos programas relacionados às atividades antárticas. O Brasil tornou-se membro em 1975.
Quais instituições participam do Programa Antártico Brasileiro?
O Programa Antártico Brasileiro é gerido por uma parceria entre ministérios e uma agência de fomento, a saber:
– Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) – financia a coordenação da execução das pesquisas;
– Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) – define da política científica;
– Ministério do Meio Ambiente (MMA) – garante o cumprimento com as regras internacionais para minimizar o impacto da presença humana em solo antártico;
– Ministério das Relações Exteriores (MRE) – responde pela Política Nacional para os Assuntos Antárticos;
– Ministério das Minas e Energia (MME) – fornece por intermédio da Petrobras, combustíveis especialmente desenvolvidos para regiões geladas, para todos os meios que operam na Antártica; e
– Ministério da Defesa (MD) – atua no PROANTAR por intermédio dos Comandos da Marinha, que sedia a Secretaria da Comissão Interministerial para Recursos do Mar (SECIRM), que gerencia o Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR), planejando as Operações Antárticas e financiando o segmento logístico do Programa e da Aeronáutica que realiza, com aeronaves C-130, os vôos de apoio ao PROANTAR.
Estas e outras perguntas são respondidas pelo hotsite da Marinha do Brasil sobre a reinauguração da EACF. Confira.
Reginaldo Mauro Neves é fundador e administrador do Clube do Arrais. Mestre-Amador, Veterano da Marinha do Brasil | Ex-tripulante da Fragata "Liberal" (1991-1993) | Operador de Radar na Fragata "Independência" (1995-1997) | Controlador Aéreo Tático Classe "Alfa" na Fragata "Dodsworth" (2000 - 2003) | Controlador Aéreo Tático Classe "Alfa" na Fragata "Greenhalgh" (2003 - 2005) | Encarregado da Seção de Segurança do Tráfego Aquaviário na Agência Fluvial de Imperatriz-MA (2008 - 2011)