Instrumentos Náuticos – Agulhas Magnéticas. Normalmente os navios possuem duas Agulhas Magnéticas: a agulha padrão, instalada no tijupá, em um local o mais livre possível das influências dos ferros de bordo e de visada desobstruída, e a agulha de governo, colocada no passadiço, por anteavante da roda do leme.
Pela agulha padrão é que se determinam os rumos e marcações. A agulha de governo serve, basicamente, para o governo do navio. O rumo da agulha de governo é obtido por comparação com a agulha padrão. O procedimento consiste em colocar o navio no rumo da agulha pela agulha padrão e, nessa situação, ler-se o rumo indicado na agulha de governo, pela qual passa-se a governar o navio. Em alguns navios, suprimiu-se a agulha de governo, sendo instalado na agulha padrão, no tijupá, um periscópio para leituras de rumo pelo timoneiro, no passadiço.
No que se refere à graduação da rosa de rumos da Agulha Magnética, inicialmente a bússola era usada apenas para indicar o Norte. Logo, entretanto, foi introduzido o conceito de marcar outras direções ao redor da borda da agulha. As direções marcadas recebem os nomes dos vários ventos, conhecidos como Norte, Leste, Sul e Oeste. Por isso, à rosa da agulha foi dado o nome de rosa dos ventos. Depois das direções cardeais (N,E,S e W), vieram as direções intercardeais (ou colaterais), NE, SE, SW e NW e, em seguida, subdivisões menores, tais como NNE, ENE, ESE, SSE, SSW, WSW, WNW e NNW.
Este sistema resulta na divisão de um círculo completo (360°) em 32 “pontos” (1 ponto = 11° 15′). Cada ponto, por sua vez, é dividido em meio ponto e 1/4 de ponto. Uma rosa completa deste tipo, com os 32 “pontos”, suas subdivisões e as designações das quartas está mostrada na Figura abaixo.
A graduação da rosa em “pontos” e quartas está, hoje, obsoleta, mas pode ser, ainda, encontrada em algumas embarcações, especialmente veleiros. A tabela da Figura abaixo permite converter a rosa em pontos e a rosa em quartas em rosa circular (000° a 360°).
Um desenvolvimento recente da Agulha Magnética é a agulha eletrônica, que baseia seu funcionamento na medida do campo magnético terrestre. Ela não usa, como a bússola tradicional, a lei de atração e repulsão dos pólos magnéticos.
Fisicamente, a diferença entre uma bússola magnética e uma bússola eletrônica (Fluxgate Compass) é que na primeira existe um ponteiro que se move constantemente, indicando a direção. Em uma bússola eletrônica não existem apontadores que mostram a direção. As correntes elétricas que passam através de bobinas de fio que são mantidos dentro da bússola indicam a direção geográfica através de sinais que são exibidos digitalmente.
HISTÓRIA DO DESENVOLVIMENTO DA AGULHA MAGNÉTICA
Antes do desenvolvimento da agulha magnética, os navegantes usavam os astros principalmente como referências para rumos. Muito cedo na história da navegação, os homens notaram que a estrela polar (deve ter sido a Draconis, naquela época, e não Polaris) permanecia próxima de um ponto no céu ao Norte. Isto servia como sua referência. Quando a estrela polar não estava visível, os navegantes usavam outras estrelas, o Sol ou a Lua. A agulha, entretanto, permitiu ao homem aventurar-se com maior segurança em viagens mais longas, no mar aberto, fora do alcance de terra, daí derivando a necessidade de instrumentos e técnicas para determinar a posição do navio.
A agulha magnética é um dos mais antigos instrumentos de navegação. Sua origem não é conhecida com certeza. Em 203 AC, quando Aníbal navegou da Itália de regresso a Cartago, diz-se que seu piloto era Pelorus (nome hoje dado ao pedestal em que é montada uma agulha magnética, uma agulha giroscópica ou suas repetidoras). Talvez a agulha magnética já estivesse em uso, então. Há, também, pouca evidência para consubstanciar
a teoria de que os chineses a inventaram. Algumas vezes se afirma que os árabes trouxeram-na para a Europa, mas isto, também, não pode ser provado.
O desenvolvimento da agulha magnética provavelmente ocorreu há cerca de 1.000 anos. A bússola mais antiga conhecida consistia de uma agulha imantada dentro de um canudo de palha (para lhe dar flutuabilidade), boiando na água, em uma cuba estanque. Daí sua denominação inicial de calamita, derivada da palavra grega para caniço, kalamites. Embora pairem muitas dúvidas sobre a sua invenção, o aperfeiçoamento da agulha magnética para propósitos de navegação tem sido frequentemente atribuído a Flavio Gioia (ou Gioja), navegante italiano de Amalfi, nascido nos fins do século XIII. Em 1302, teria aperfeiçoado a bússola marítima, dotando-a de caixa conveniente e carta-compasso (rosa de rumos). Entretanto, cerca de 100 anos antes, em 1200 DC, uma agulha usada por navegantes quando a estrela polar estava escondida já era descrita por um poeta francês, Guyot de Provins. Além disso, o escritor Hugo de Bercy, em 1248, mencionou a construção de um novo tipo de bússola marítima, na qual a agulha imantada era suportada por dois flutuadores. O Peregrino Pedro de Maricourt, na sua Epistola de Magnete, de 1269, cita uma bússola líquida, cuja agulha imantada pivotava sobre um eixo vertical, com linha-de-fé e equipada com um dispositivo para a medida de marcações. Quando se acrescentou a rosa graduada (rosa dos ventos), a agulha magnética assumiu a forma com a qual estamos familiarizados.
Os navegantes nórdicos do século XI já conheciam a agulha magnética. Além deste detalhe, pouco mais se sabe sobre os métodos de navegação usados pelos vikings. A extensão de suas viagens pressupõe o emprego de métodos mais avançados do que os indicados nos escassos registros existentes, que, ademais, são conflitantes. Uma explicação pode ser que os vikings deixaram muito poucos testemunhos escritos, de qualquer espécie. Outra explicação possível relaciona-se com a barreira de segredo com a qual os antigos navegantes cercavam e protegiam sua profissão e seus conhecimentos.
FONTE DE CONSULTA: Adaptado de: Navegação – Ciência e Arte (DHN/Marinha do Brasil).
Tags: agulhas magnéticasinstrumentos náuticosprova capitão amadorprova de mestre amadorsimulado mestre amador
Reginaldo Mauro Neves é fundador e administrador do Clube do Arrais. Mestre-Amador, Veterano da Marinha do Brasil | Ex-tripulante da Fragata "Liberal" (1991-1993) | Operador de Radar na Fragata "Independência" (1995-1997) | Controlador Aéreo Tático Classe "Alfa" na Fragata "Dodsworth" (2000 - 2003) | Controlador Aéreo Tático Classe "Alfa" na Fragata "Greenhalgh" (2003 - 2005) | Encarregado da Seção de Segurança do Tráfego Aquaviário na Agência Fluvial de Imperatriz-MA (2008 - 2011)