O naufrágio da Evinrude, a lendária marca de motores de popa nascida em Wisconsin [EUA] há mais de um século, deixou concessionárias e navegadores tristes, chateados e perplexos.
No final de maio, a BRP, fabricante canadense de motores de popa Evinrude, disse que estava se afastando da marca que antes era uma concorrente feroz da Mercury Marine, com sede em Fond du Lac, eliminando quase 400 empregos em sua fábrica em Sturtevant.
“Nosso negócio de motores de popa foi bastante impactado pelo COVID-19, obrigando-nos a interromper a produção de nossos motores de popa imediatamente. Esse segmento de negócios já estava enfrentando alguns desafios, e o impacto do contexto atual nos forçou”, afirmou o presidente e CEO da BRP, José Boisjoli, em comunicado.
Os revendedores da Evinrude disseram que ficaram surpresos com o anúncio que ocorreu no início da temporada de passeios de barco nos EUA e que se seguiu ao lançamento pela BRP de três novos motores Evinrude em 2019.
“É por esse motivo que isso nos pegou de surpresa”, disse Joseph Pekora, proprietário de uma das maiores concessionárias da Evinrude na costa leste.
“Ficamos muito, muito chocados. Eles nos mantiveram completamente no escuro”, disse Pekora com Barnacle Bill em Delmont, Nova Jersey.
A BRP assinou um acordo com a Mercury Marine para comprar motores para suas marcas de barcos, Alumacraft e Manitou. Isso também virou a cabeça do setor, onde por décadas Evinrude e Mercury lutaram pela fidelidade do cliente.
“Era como Packers and Bears”, disse Charles Plueddeman, escritor da Boating Magazine que vive em Oshkosh.
As vendas no varejo de motores de popa, de todas as marcas consideradas, aumentaram pelo oitavo ano consecutivo em 2019, segundo a revista Boating Industry. As vendas unitárias atingiram uma alta de 13 anos.
No entanto, a BRP defendeu sua decisão de descontinuar os motores de popa Evinrude em um mercado dominado pela Mercury Marine e outro concorrente, a Yamaha.
“Não comentaremos ou especularemos sobre o que nossos revendedores tiveram a dizer sobre essa decisão e mantemos nossa crença na tecnologia que produzimos. No entanto, nos últimos anos, apesar de sua tecnologia inovadora, nossa linha de motores de popa perdeu ações em um mercado que já era difícil ”, disse a BRP em resposta às perguntas do Milwaukee Journal Sentinel.
“Como a situação atual nos forçou a reduzir nosso plano de investimento e rever em baixa nossa expectativa de crescimento para os negócios, o caminho para a melhoria da lucratividade dos motores externos foi muito longo e tornou-se evidente que tivemos que tomar a difícil decisão de descontinuar nossa produção de motores de popa”, afirmou a empresa.
Alguns revendedores da Evinrude disseram que ficaram decepcionados depois de defenderem a marca por décadas, e permaneceram leais durante a falência de seu proprietário anterior, a Outboard Marine Corp., que outrora empregava milhares em Milwaukee.
“Estou muito decepcionado”, disse David Zammitt, dono de uma das concessionárias Evinrude mais antigas do país, a Hardware & Boats da Lockeman, fundada em Detroit em 1918.
“Eu vivi a falência da OMC, todas as recessões, reviravoltas e tudo mais na indústria marítima”, disse Zammitt. “Agora, a BRP pular na cama com a Mercury para fornecer motores para seus barcos é inacreditável para mim.”
Zammitt disse que soube da decisão da BRP por meio das mídias sociais. “Eu nunca vi isso acontecer”, disse ele.
Tim Doberstein, dono da Marina de Spellman em Oshkosh, disse que também recebeu as notícias em segunda mão.
“Eles nem me disseram na Alumacraft ou na Evinrude. Eu tinha um cliente me ligando”, ele disse.
A BRP, que também fabrica motos de neve SkiDoo, motos aquáticas Sea-Doo e veículos todo-o-terreno Can-Am, disse que por ser uma empresa de capital aberto, não poderia dar aviso prévio aos revendedores Evinrude.
“Temos protocolos obrigatórios a serem seguidos quando fazemos esse tipo de anúncio. Informamos nossos funcionários e fizemos uma declaração pública, a qual somos obrigados a fazer primeiro”, disse a empresa ao Journal Sentinel.
A BRP forneceu um aviso ao Departamento de Desenvolvimento da Força de Trabalho de Wisconsin, dizendo que estava eliminando 387 empregos em Sturtevant nos próximos quatro meses.
“Essas decisões impactarão 650 funcionários em todo o mundo”, afirmou a BRP.
O naufrágio da Evinrude – a lendária marca de motores de popa. O que levou ao desaparecimento da marca?
Algumas coisas, de acordo com especialistas do setor, incluindo a Evinrude, ficaram para trás na “corrida de cavalos” por motores maiores e mais potentes.
Além disso, a empresa manteve seu design de motor “twostroke”, que exige que os consumidores adicionem óleo à gasolina, algo que o resto da indústria abandonou anos atrás.
Ainda assim, os mais recentes motores Evinrude “E-TEC” são carregados com tecnologias avançadas. Em 2019, a revista Popular Mechanics até chamou um deles de “o motor de barco mais eficiente que já vimos”.
“Os motores E-TEC têm tudo a ver com simplicidade: sem troca de óleo, quase nenhuma manutenção, grande economia de combustível”, disse a Popular Mechanics.
Mas as concessionárias dizem que os consumidores querem motores de popa de quatro tempos, como o que a Mercury e a Yamaha agora vendem, e que não exigem a mistura de óleo e gasolina.
“Você pode conversar com alguém até ficar com o rosto azul, mas ele quer quatro tempos”, disse Pekora, de Nova Jersey.
No lago Okauchee, no condado de Waukesha, há uma placa para homenagear Ole Evinrude, cuja invenção trouxe motores de popa às massas, como Henry Ford fez com os automóveis.
Diz a lenda que Evinrude teve a ideia de remar através do lago para pegar sorvete para sua namorada, Bess. Quando ele voltou, o sorvete havia derretido.
Ole Evinrude, o fundador da marca. Imagem ©: reprodução / Google.
Depois que eles se casaram, Bess colocou um anúncio no Chicago Tribune oferecendo motores de barco “Evinrude” para venda. Jogue fora os remos. Compre um motor de barco a remo Evinrude”, dizia.
Quando os pedidos de mais ou menos uma dúzia de motores chegaram, ela disse a Ole que era melhor ele trabalhar neles e a primeira empresa de motores de popa do mundo nasceu.
A morte da marca, pelo menos em sua forma atual, entristece alguns barqueiros que são leais a ela há muitos anos e desfrutam da rivalidade com a Mercury Marine.
“Realmente cheira mal ver isso. A concorrência é uma coisa boa do setor”, disse Danny Woodke, um guia de pesca de Gillett cujo barco é movido por um Evinrude.
Na semana passada, ele recebeu uma camisa de torneio de pesca pelo correio.
Estampado em negrito, estava o nome de seu patrocinador: EVINRUDE.
Fonte: Milwaukee Journal Sentinel. | pressreader.com
Reginaldo Mauro Neves é fundador e administrador do Clube do Arrais. Mestre-Amador, Veterano da Marinha do Brasil | Ex-tripulante da Fragata "Liberal" (1991-1993) | Operador de Radar na Fragata "Independência" (1995-1997) | Controlador Aéreo Tático Classe "Alfa" na Fragata "Dodsworth" (2000 - 2003) | Controlador Aéreo Tático Classe "Alfa" na Fragata "Greenhalgh" (2003 - 2005) | Encarregado da Seção de Segurança do Tráfego Aquaviário na Agência Fluvial de Imperatriz-MA (2008 - 2011)
